Integrada à ampla rede de transporte público de ônibus e trens, a bicicleta é considerada um importante meio de transporte neste pequeno país escandinavo, que tem uma das mais modernas infraestruturas do mundo para ciclistas. Todo ano, desde 2015, o Copenhagenize Index, um ranking das cidades mais bike-friendly do mundo, coloca a capital da Dinamarca no topo da lista. Se você gosta de andar de bicicleta, a Dinamarca está pronta para recebê-lo.

Os dinamarqueses e as bicicletas
Copenhagen, a capital da Dinamarca, localizada na Ilha da Zelândia, e cujo nome significa “porto de mercadores” no idioma local, tem uma população de 633.000 pessoas (2017) e cerca de 675.000 bicicletas, além de 120.000 carros. 62% da população da região da capital usa a bicicleta para ir trabalhar ou ir à escola, quatro entre dez pessoas têm carro e nove entre dez pessoas têm bicicleta. Na verdade, desde 2016, o trânsito de bicicletas na ilha superou o de carros, sendo que 52% dos domicílios não têm carro. Os dinamarqueses, em média, pedalam 3 km/dia em Copenhagen, 2,4 km/dia em Århus, a segunda maior cidade daquele país; e 2,6 km/dia em Odense, a terceira maior. 75% das bicicletas continuam nas ruas no frio inverno dinamarquês e cerca de 4000 a 5000 delas são vendidas anualmente em Copenhagen.
A Dinamarca é o país dos ciclistas há quase 100 anos e, nas décadas de 1920 e 1930, pedalar tornou-se um símbolo de igualdade e liberdade. No começo dos anos 70, quando a terra de Hans Christian Andersen e todos os países do mundo estavam investindo pesado na infraestrutura automobilística – a qual veio a estagnar com a crise de petróleo do Oriente Médio – Copenhagen apostou alto e exigiu uma cidade no modelo car-free, ou seja, livre de carros.

As crianças dinamarquesas começam a andar de bicicleta antes dos seis anos de idade. Quando mais novas, quase sempre são vistas nas bicicletas dos pais. Tais veículos podem ser adaptados com diferentes peças e suplementos para transportar uma ou mais crianças de uma só vez. Na verdade, foram os dinamarqueses que inventaram o baú frontal para bicicletas visto aqui e abaixo, o qual carrega convenientemente crianças ou cargas, neste que é o país das bicicletas. Na escola, as crianças aprendem a cultura do pedalar, regras e normas de segurança para andar de bicicleta, como parte do currículo escolar. 49% de todos os jovens dinamarqueses entre 11-15 anos vão para a escola de bicicleta.

A infraestrutura para pedalar na Dinamarca
O que parece ser muito importante e que justifica o sucesso das bicicletas na Dinamarca é, dentre outros fatores, o fato de eles terem ciclovias separadas, às quais os carros não têm acesso. Copenhagen tem cerca de 400 kilômetros de ciclovias, separadas das vias de carros e dos passeios de pedestres.
Geograficamente, a Dinamarca é uma península ao norte da Alemanha, composta por Jutland, a ilha da Zelândia e inúmeras outras ilhas. É um país moderno e abastado com cerca de 43,1 mil kilômetros quadrados e com 12.000 kilômetros de ciclovias. Os país construiu 13 pontes para bicicletas desde 2017 e há ainda mais três em construção. Recentemente foi terminada uma ponte com vias de 5,5 m de largura em cada sentido e que recebe mais de 22.000 ciclistas/dia (Dybbølbro). Também estão sendo construídas centenas de kilômetros de “superciclovias”, que vão conectar a cidade de Copenhagen a às cidades próximas.

A rede de transporte público funciona junto às ciclovias dinamarquesas. Os trens de passageiros têm um vagão exclusivo para bicicletas. 20% dos ciclistas dinamarqueses pedalam até as estações de trem e 5% o fazem das estações até seu destino. Em Copenhagen, esses números são 30% e 10%, respectivamente.

Saúde e meio ambiente
Pedalar reduz problemas de saúde, faltas no trabalho e economiza em custos de saúde ao contribuinte dinamarquês. Estudos dinamarqueses demonstram que, para cada kilômetro pedalado, a Dinamarca ganha aproximadamente $1,10 dólares em benefícios para seu sistema público de saúde. Além disso, os ciclistas de Copenhagen solicitam menos 1,1 milhão em dias de afastamento médico em comparação aos não-ciclistas. Isso se traduz em 215 milhões de euros de economia anual. A cada 1200 kilômetros pedalados, tem-se menos um dia de afastamento por doença. Essa é ainda uma ótima forma de os dinamarqueses saírem para tomar um ar todos os dias e aproveitar as áreas externas, o que acalma o pensamento e reduz o stress.
Os benefícios de andar de bicicleta para o meio ambiente falam por si: pedalar reduz a emissão de carbono, a poluição, os ruídos e os congestionamentos. Pedalar faz uso mais eficiente do espaço público, cria uma vida urbana mais rica e torna as cidades locais melhores para se viver. Na região da Zelândia, uma das maiores e mais povoadas ilhas da Dinamarca, onde fica a capital Copenhagen, o uso da bicicleta significa menos 500 toneladas de CO2 por ano e os moradores da região produzem 92% menos emissões quando substituem o carro pela bicicleta. Os dinamarqueses consideram que andar de bicicleta é o presente e o futuro da mobilidade e do desenvolvimento de uma cidade inteligente. E com mobilidade a baixo custo.

Tecnologia dinamarquesa
Os dinamarqueses tentam fazer o uso da bicicleta o mais conveniente possível para poder estimulá-lo. A tecnologia de onda verde, que existiu de forma similar para carros na Dinamarca por muitas décadas, hoje pode ser vista nas ciclovias com sinais verdes em LED. Quando está na ciclovia com onda verde andando a 20 km/h, o ciclista sabe que o próximo sinal estará verde e que não terá de parar. Além disso, quando está chovendo, algumas ciclovias são equipadas com sensores que deixam os sinais verdes por mais tempo. Os dinamarqueses também estão sempre testando e implantando novas tecnologias para melhorar a segurança, como as luzes LED que avisam caminhoneiros sobre a presença de ciclistas, quando viram à direita.
As ciclovias dinamarquesas têm ainda uma infraestrutura urbana com um conforto razoável, como estações de serviço; monitores com todo tipo de informação em tempo real, como previsão do tempo, número de ciclistas, etc.; bombas de ar; apoio para os pés e até mesmo latas de lixo bike-friendly, convenientemente inclinadas.

As superciclovias dinamarquesas
As chamadas “superciclovias” dinamarquesas, assim batizadas pelo Departamento de Superciclovias (o Sekretariatet for Supercykelstier) daquele país, conectam às cidades próximas a Copenhagen. O objetivo é ampliar os trajetos de longa distância por bicicleta, tornando-os competitivos em relação ao uso de trens e ônibus. Isso reduz as emissões de carbono e, ao mesmo tempo, melhora a saúde dos ciclistas. Outros países europeus também estão construindo esta nova categoria de vias públicas para bicicletas.

Em 2009, Copenhagen e a maior parte das cidades próximas iniciaram um projeto conjunto para construir um total de 750 kilômetros dessas ciclovias até 2045. Já foram construídas até agora um total de oito delas, passando de 12 kilômetros em 2012 para 167 kilômetros em 2019.
Construídas com a meta de manter Copenhagen e suas cidades próximas como “os melhores lugares para bicicletas” do mundo, as superciclovias fazem o match perfeito entre finanças e meio ambiente. Uma pesquisa dinamarquesa apontou que substituir 1% de todos os trajetos de carro por trajetos de bicicletas nos poupa 23.000 toneladas de CO2. O tráfego de bicicletas nas superciclovias aumentou cerca de 23% desde 2012, sendo que 14% dessas pessoas costumavam usar carro. O maior número de ciclistas registrado em uma superciclovia em um dia de semana foi de 29.000, com uma média de trajeto de 11 km/dia por ciclista. Haveria um aumento de 30% no uso de carro, se ninguém da região usasse bicicleta.
As superciclovias vão custar $319,8 milhões de dólares até 2045 e trarão um excedente socioeconômico de $892,3 milhões de dólares. Destes, $667,7 milhões de dólares compreenderão benefícios ao sistema de saúde. Também reduzirão em 40.000 o número de dias de afastamento por doença por ano.
Um estudo feito pela danskindustri.dk descobriu que 10% dos ciclistas reduzem anualmente os dias de afastamento por doença em 267.000, reduzem 6% de trânsito e congestionamentos, além de economizarem $160 milhões de dólares para a saúde pública.
Conheça alguns ciclistas
De acordo com um estudo de um mês feito pela supercykelstier.dk , a dinamarquesa Mette, de 49 anos, que usou uma bicicleta elétrica, observou uma redução de cinco anos em sua idade corporal ao pedalar cerca de 27 km/dia. Ela também viu seu IMC (Índice de Massa Corporal) cair de 24,4 para 23,4 em um único mês.

A dinamarquesa Fiona Weiss, que anda de bicicleta há 50 anos, gosta de pedalar mais no verão. Nas palavras dela, “pedalar nos traz energias boas e me permite descobrir lugares que eu não veria se estivesse no trem, além de manter minhas pernas em forma”. Ela também diz gostar de pedalar mesmo “em um bom dia de inverno, quando eu sinto vontade de sair para tomar um ar, à beira do mar ou em um bosque”.
Bettina Fürstenberg é uma dinamarquesa de 52 anos, que costumava pedalar cerca de 16 kilômetros por dia até sofrer um grave acidente com a bicicleta por volta dos 30 anos. No momento, ela tem três bicicletas, sendo uma delas elétrica. Segundo ela, pedalar é “a forma mais rápida de se mover por Copenhagen”. E “sem poluir o ar”. Ela acha que “ainda são necessárias vias melhores e maiores, com regras mais rígidas para os ciclistas”, como “limites de velocidade”. Embora não tenha se recuperado totalmente do acidente que sofreu, ela ainda anda de bicicleta “para qualquer tipo de atividade, como ir trabalhar, ir ao cinema, a parques, às compras, etc.”.
O know-how de ciclismo à moda dinamarquesa
A Embaixada do Ciclismo da Dinamarca é uma entidade local que promove o ciclismo em cidades de todo o mundo. Eles oferecem um filme em realidade virtual, que apresenta um passeio de bicicleta por Copenhagen, uma viagem de estudo de dois dias pela Dinamarca, e preparam relatórios anuais. Os dinamarqueses têm diversos sites em inglês, que promovem o ciclismo e mostram o país. Muitos deles foram usados neste trabalho e estão elencados no final deste texto.
A Língua Dinamarquesa
O dinamarquês é uma língua de origem germânica falada na Dinamarca, nas Ilhas Faroé (no Atlântico Norte) e por uma minoria na Groenlândia. É uma língua inteligível pelos suecos e noruegueses. Todas essas línguas descendem da língua nórdica antiga. O islandês, outra língua da terra dos Vikings, também deriva da língua nórdica antiga.
Como o português, o dinamarquês é uma língua indo-europeia, o que significa que são apenas parentes distantes. A maioria dos dinamarqueses fala bem o inglês já na mais tenra idade.
Traduzido por Ilka Santi, ilkam@uol.com.br
Copyright © 2020 Jorge Luis Carbajosa
Fontes:
http://www.cycling-embassy.dk/
https://cyclingsolutions.info/
https://Copenhagenizeindex.eu/
https://denmark.dk/people-and-culture/biking
https://www.danskindustri.dk/english
McKay’s Modern Danish – English Dictionary by Hermann Vinterberg, David McKay Company, Inc.
An Introduction to Old Norse, E.V. Gordon, Oxford 1990.